19 de out. de 2010

A FRESCURA DOS BRASILEIROS DIANTE DA COMIDA

Matéria
de Luiza Fecarotta na Folha de hoje -- "
Guia dos Curiosos" -- mostra comidas
estranhas ou curiosas, de queijo de leite materno a café comido e defecado por
um tipo de gambá. Sobre a reação que os brasileiros costumam ter a comidas
diferentes, escrevi o seguinte comentário, na matéria:
Maisestranho é o fato de estranhá-los
Mais bizarro do que determinadas comidas bizarras é o hábito brasileiro ( não só das classes abastadas, do povo também) de rejeitar comidas que saiam de um restrito repertório do trivial cotidiano.
Por que
só arroz, feijão, macarrão e bife? Por que não coentro (fora da Bahia), jambu
(fora da Amazônia), maxixe (fora do Nordeste), ora-pro-nobis (fora de Minas)? E
por que não miúdos e partes de animais que não sejam sós o filé mignon (ou
algum tipo de bife)? E por que não outros animais além dos poucos de sempre ?
Bucho,
testículos, miolo; e também escorpiões, cobras e lagartos alimentam povos
considerados altamente civilizados e ricos. Os franceses, com seus sapos e
lesmas, talvez tenham-se a eles habituado em função das guerras (inclusive
internas -durante a Comuna de Paris, não sobrou pata sobre pata no zoológico dacidade).
No caso
dos chineses, foi a escassez de recursos e o excesso de população que fizeram nada ser rejeitado,resultando numa culinária variada e sofisticada.
O Brasil
não sofreu a pressão das guerras, mas sofre o da escassez, da pobreza. Quando
um nordestino come um calango, soa como desespero; mas não deveria ser tão normal quanto um italiano que caça um tordo ?
Nunca
comi calango, mas isso é um mau sinal. Significa que não estão à venda, que
ninguém os prepara como o que são: uma fonte de proteína a mais que a natureza
oferece, e que possivelmente é gostosa. Certamente, poderia se tornar uma
iguaria nas mãos de cozinheiros aplicados.
Miúdos
tendem a ser ultraproteicos e baratos: ideal para um país pobre. Mas parece que
nosso complexo de Casa Grande extirpou até o gosto pela aventura do gosto. Uma perda.
(Publicado
na
Folha Ilustrada, 8/4/2010)
Escrito por Josimar
às 19h44




















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